A decisão da juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal de Pernambuco, ontem, de decretar a prisão preventiva do cantor sertanejo Gusttavo Lima, foi baseada na investigação de uma organização criminosa associada a crimes de lavagem de dinheiro e jogos de azar, como apostas esportivas e cassinos on-line. Também foram expedidos mandados de prisão para outros envolvidos no esquema, incluindo aviso à Interpol, devido à suspeita de que alguns acusados tenham fugido do Brasil.
O processo corre em sigilo, mas o Correio teve acesso à decisão da 12ª Vara do TJ-PE. No texto, a juíza acata o pedido da Polícia Civil pernambucana e rejeita os argumentos do Ministério Público estadual, que havia solicitado a substituição dos pedidos de prisão preventiva por outras medidas cautelares, na última sexta-feira.
A Justiça também determinou o bloqueio de bens e valores e a suspensão do passaporte e do certificado de registro de arma de fogo de Gusttavo Lima. A medida foi tomada após investigações apontarem sua ligação com uma rede de empresas envolvidas na lavagem de grandes quantias de dinheiro provenientes de jogos ilegais. A juíza destacou que "o inquérito instaurado para investigar a possível existência de uma organização criminosa complexa, caracterizada pela divisão de tarefas e por um aparato operacional estruturado em núcleos, é fundamental diante dos graves prejuízos que essa atividade supostamente causa", disse.
O inquérito conduzido pela polícia apurou que o cantor participou de transações financeiras suspeitas com empresas investigadas na Operação Integration, recebendo valores milionários por meio de intermediações e empréstimos sem justificativa plausível. Segundo a decisão da magistrada, Gusttavo Lima está envolvido diretamente com a empresa Vai de Bet, na qual detém participação de 25% no capital social. Além disso, o artista pode ter fornecido suporte financeiro e logístico a foragidos da Justiça, agravando sua situação no processo.
A juíza Andréa Calado foi enfática ao afirmar que "a riqueza não deve servir como um escudo para a impunidade, nem como um meio de escapar das responsabilidades legais", reforçando a necessidade da prisão preventiva para garantir a ordem pública e a aplicação correta da lei. A decisão menciona que o artista sertanejo tentou dificultar o trabalho da Justiça, colaborando ativamente com investigados foragidos.
Milionário, Gusttavo Lima é figura fácil nos sites de celebridades, e ele não esconde intimidade com poderosos da República. No início do mês, o cantor patrocinou, em uma ilha da Grécia, uma luxuosa festa de aniversário a bordo de um iate avaliado em R$ 1 bilhão. Entre os convidados, estavam o ministro do Supremo Tribunal Federal Kassio Nunes Marques e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O principal investigado na Operação Integration, José André da Rocha Neto, dono da empresa de apostas Vai de Bet, também participou da celebração.
A relação próxima entre Gusttavo Lima e Rocha Neto — que vai além de negócios — foi um dos pontos destacados pela juíza Andréa Calado da Cruz. A esposa do empresário, Aislla Sabrina Truta Henriques da Rocha, também é investigada. O casal está foragido.
"O Poder Judiciário não se submete aos clamores populares nem se norteia pela opinião pública, pois sua função é aplicar a lei com imparcialidade e justiça. Não pode, tampouco, ser influenciado pelo poder econômico ou pelo status social dos investigados. A justiça deve ser cega a esses fatores, tratando todos, independentemente de sua posição", ressaltou a juíza.
Ao longo da investigação, a Balada Eventos e Produções LTDA — que também tem o artista como sócio — teve apreendido um avião Cessna, para nove passageiros, por não ter permissão para operar como táxi aéreo.
De acordo com o jornalista Leo Dias e com o candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, que conversaram por telefone com Gusttavo Lima, disseram que o cantor sertanejo está em Miami, nos Estados Unidos, para onde viajou antes da decretação de sua prisão preventiva. "Eu não fiz nada de errado nem tem nada contra mim, essa prisão vai ser revogada, eu tenho fé em Deus", disse Lima ao jornalista.
Pablo Marçal (PRTB), em suas redes sociais, disse que entrou em contato com o cantor e que "ele está em Miami, está supertranquilo". A defesa do cantor não se manifestou até o fechamento desta edição.
Na mesma operação, há duas semanas, a polícia prendeu a advogada e influenciadora Deolane Bezerra e a mãe dela, Solange, também por suposta participação no esquema de lavagem de dinheiro por meio de sites de apostas. Ontem, o desembargador Eduardo Guilliod Maranhão, do TJ-PE, concedeu habeas corpus para Deolane, a mãe dela e mais 17 investigados, incluindo Darwin Henrique da Silva Filho, proprietário da Esportes da Sorte, outra empresa de apostas na mira das investigações.