O papa Francisco, que morreu aos 88 anos nesta segunda-feira, 21, deixou uma legião de fiéis órfãos de seus ensinamentos. O pontífice ficou conhecido por sua postura progressista no comando da Igreja Católica e por prezar pelo diálogo e pela paz em um período em que novas guerras tomaram forma.
Jorge Mario Bergoglio criticava líderes que incentivavam formas de violência e o modelo econômico capitalista. Mostrava-se tolerante com temas que são tabus entre os religiosos, como o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, e também adotava um tom bem-humorado em entrevistas.
Relembre algumas das principais frases do papa Francisco durante o período em que comandou a Igreja:
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos, às 2h35 pelo horário de Brasília (7h35 no horário local), nesta segunda-feira. As informações sobre a morte do papa foram divulgadas pelo Vaticano, mas a causa ainda não foi revelada. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos.
O papa se recuperava de um quadro respiratório grave, que o deixou 37 dias no hospital, entre fevereiro e março deste ano. Ontem, no Domingo de Páscoa, o papa fez uma aparição para abençoar milhares de pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio sofria de uma doença pulmonar crônica que o vitimou.
A morte do papa ocorreu um dia após o Domingo de Páscoa, quando ele fez uma breve aparição para abençoar as milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro, no Vaticano, o que provocou vivas e aplausos da multidão.
O pontífice seguia em recuperação de um grave episódio de pneumonia bilateral.
Ele não celebrou a missa de Páscoa na praça, deixando a tarefa para o cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica de São Pedro.
Francisco só apareceu em público algumas vezes desde que retornou ao Vaticano, em 23 de março, após uma hospitalização de 38 dias.
Ele não participou das solenidades da Sexta-Feira Santa e do Sábado Santo, mas o folheto da missa e os planos litúrgicos publicados pelo Vaticano já adiantavam sua aparição no domingo.
Segundo o Vaticano, ao menos 35 mil pessoas participaram da missa no local, especialmente adornado com narcisos, tulipas e outras flores doadas pelos Países Baixos.
“Irmãos e irmãs, feliz Páscoa!”, disse Francisco, no domingo.
Integrante de uma família de imigrantes italianos, Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Depois de passar a infância no bairro de Flores e se apaixonar pelo San Lorenzo, clube de futebol pelo qual torcia, ele ingressou no seminário de Villa Devoto com o objetivo de se tornar padre, aos 21 anos.
Em 1969, Bergoglio foi ordenado sacerdote. O pontífice se dividia entre a dedicação ao seminário e à Academia — estudou teologia no Colégio Máximo San José e se tornou doutor no mesmo ofício em Freiburg, na Alemanha.
No período em que desenvolveu sua tese na Europa, foi diretor espiritual e confessor na igreja da Companhia de Córdoba. O papa João Paulo II o nomeou bispo titular de Buenos Aires em 1992.
Seis anos mais tarde, tornou-se arcebispo e, em outubro de 2001, foi relator -geral da 10ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. No mesmo ano, foi nomeado cardeal por João Paulo II, condição de alto dignitário da igreja católica, que o credenciou a, entre outras funções, participar da eleição de novos pontífices e liderar missões religiosas.
Ortodoxo na discussão de temas como a homossexualidade, o aborto e os métodos contraceptivos na Argentina, que registrou progresso no campo dos costumes sob as gestões de Néstor e Christina Kirchner, Bergoglio assumiu um discurso de defesa da Justiça social e flexibilização quanto a outras pautas conforme ascendeu na hierarquia católica. Ao ser nomeado para o cardinalato, sugeriu que os colegas argentinos não fossem ao Vaticano comemorar a nomeação e doassem o dinheiro da viagem para os mais pobres.
Como cardeal, Francisco liderou comissões da igreja para a América Latina e presidiu a Conferência Episcopal da Argentina até novembro de 2011. No fim do pontificado do alemão Papa Bento XVI, em fevereiro de 2013, credenciou-se para o Conclave em uma condição pouco favorável — com 60 cardeais europeus e apenas 33 da América aptos a votar, o Vaticano nunca havia escolhido um não europeu para liderá-lo.
Mas a América Latina havia superado a Europa no número de católicos e a imprensa internacional reportava que, à luz dessa mudança, a Santa Sé caminhava na direção do ineditismo. A projeção se consolidou: conforme revelou o vaticanista Gerard O’Connell, o argentino foi eleito na quinta votação, com 85 votos, e assumiu a cadeira em 13 de março de 2013.
Em 12 anos à frente da igreja, teve um papado avaliado como progressista, em especial pela instauração de comissões de combate a crimes sexuais, redução da predominância europeia no cardinalato e pela defesa vocal das causas ambientais, Justiça social e refugiados.
Francisco manteve visões conservadoras a respeito de temas como o aborto e o celibato clerical. Por outro lado, nomeou cardeais de regiões sub-representadas no Vaticano e buscou ouvir segmentos progressistas e minoritários da religião ao promover, em 2021, o maior processo de consulta popular da história quando convocou 1,3 bilhão de católicos a se manifestar sobre o futuro da igreja, à revelia de representantes tradicionais.
Na liderança do Estado católico, atuou pela restauração das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos e defendeu repetidamente os refugiados palestinos diante da violência militar promovida por Israel, em oposição a importantes dirigentes católicos.
Em junho de 2024, rezou, nos jardins do Vaticano, pela pacificação do conflito em Gaza: “Os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajuda-nos. Concede-nos a paz, ensina-nos a paz, conduz-nos à paz. Abre os nossos olhos e os nossos corações e dá-nos a coragem de dizer ‘nunca mais’ à guerra. Com a guerra, tudo está destruído”.