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'Invasão dos EUA na Venezuela não é verossímil', avalia especialista
Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. — Foto: Pedro Rances Mattey / AFP
Brasil/Mundo

'Invasão dos EUA na Venezuela não é verossímil', avalia especialista

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Em entrevista ao Jornal da CBN, o professor e especialista em Segurança Internacional Salvador Raza analisou a movimentação militar dos Estados Unidos no Caribe e as reais capacidades de reação do governo Nicolás Maduro.

O anúncio de Donald Trump de que usaria “toda a força” contra Nicolás Maduro, na Venezuela, veio acompanhado do deslocamento de navios e aeronaves militares norte-americanos para a região do Caribe. O movimento, no entanto, está longe de significar uma invasão iminente. É o que avalia o professor e especialista em Segurança Internacional, Salvador Raza.

Segundo ele, a leitura de que Washington prepara uma intervenção direta não encontra respaldo entre analistas militares.

“A ideia de que os Estados Unidos iriam colocar tropas na Venezuela não é verossímil, por várias razões, inclusive legais”, afirmou em entrevista ao Jornal da CBN.

Na avaliação do professor, a operação tem sobretudo caráter de demonstração de força. O envio de porta-aviões e caças reforça a capacidade de escalada de Washington, mas sem a indicação de que essa escalada de fato ocorrerá. A estratégia, explica Raza, é política: trata-se de manter a pressão sobre Caracas e, ao mesmo tempo, mandar recados a potências rivais.

“Essa movimentação no Caribe é uma sinalização para a Rússia e para a China”, disse o especialista, lembrando que Moscou intensificou sua presença na região nos últimos anos, inclusive com submarinos nucleares em Cuba. Nesse contexto, a presença americana busca frear o avanço de influência estrangeira na América Latina.

Já em relação à Venezuela, a desvantagem militar é evidente. O país conta com forças armadas enfraquecidas, equipamentos obsoletos e uma marinha quase inexistente. As chamadas milícias, apresentadas por Maduro como reforço popular, teriam, segundo Raza, pouca capacidade prática.

Ele ressalta que muitas vezes o número de combatentes é inflado para fins de propaganda e que falta armamento e treinamento adequado para a maioria deles.

O especialista lembra, ainda, da presença de grupos criminosos armados, como o Trem de Aragua, que teria algum poder de fogo antiaéreo e forte influência em territórios venezuelanos. Ainda assim, a capacidade de resistir a uma ofensiva americana seria extremamente limitada.

Do ponto de vista jurídico, a movimentação de Washington encontra justificativas em legislações antigas, que já foram usadas em outras ocasiões para ações militares ou de controle migratório.

“O governo Trump está usando um artigo de 1800, com mais de dois séculos, que poderia justificar tanto deportações como eventuais ações militares”, explicou Raza.

Para ele, no entanto, mais do que questões legais ou estratégicas, a base do discurso americano é política. “A grande justificativa é a autodefesa contra terrorismo e drogas, que os Estados Unidos consideram ameaças diretas”, concluiu.

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