
Trump ameaça cassar concessão de emissoras que são "contra ele"
As declarações do titular da Casa Branca representariam uma ameaça à Primeira Emenda da Constituição, de 1791
Depois de celebrar a suspensão do programa do humorista Jimmy Kimmel pela rede de televisão americana ABC, o presidente Donald Trump ameaçou revogar as licenças das emissoras que forem "contra" ele. "Li em algum lugar que as redes estavam 97% contra mim, novamente, 97% negativas. Ainda assim, eu ganhei, e facilmente, em todos os sete estados indecisosa", disse o republicano, ao citar o triunfo nas eleições de 2024. "Elas (emissoras de TV) só me dão publicidade negativa, imprensa. Quer dizer, elas estão conseguindo uma licença. Eu acho que, talvez, a licença delas devesse ser retirada", acrescentou, durante entrevista concedida a repórteres a bordo do Air Force One, o avião presidencial, ao retornar da Europa. "Quando você tem uma emissora e você tem shows noturnos, tudo o que fazem é bater em Trump", concluiu.
As declarações do titular da Casa Branca representariam uma ameaça à Primeira Emenda da Constituição, de 1791, a qual prevê proteção de interferência governamental a cinco direitos fundamentais: a liberdade de religião, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de associação pacífica e o direito à petição ao governo. Ontem, Trump também alfinetou Kimmel. "Pode-se dizer que se trata de liberdade de expressão, ou não, (mas) ele foi demitido por falta de talento", afirmou.
A punição a Kimmel teria sido provocada por um comentário sobre a morte do ativista conservador Charlie Kirk, aliado de Trump e cofundador do movimento Turning Point USA. "Esse pessoal do Maga ('Make American Great Again') está desesperadamente tentando caracterizar esse cara que matou Charlie Kirk como qualquer coisa, menos um deles", afirmou em seu programa. Trump considerou a suspensão, anunciada na noite de quarta-feira, uma "excelente notícia para os Estados Unidos". Quase ao mesmo tempo, ele informou que passaria a tratar a Antifa, grupo difuso da esquerda radical, como "organização terrorista".
Pouco antes de viajar à Europa, Trump também divulgou que entrou com um processo de US$ 15 bilhões (ou R$ 80 bilhões) contra o jornal The New York Times. A ação judicial e a punição a Kimmel indignaram a esquerda e receberam críticas inclusive do ex-presidente Barack Obama. "Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível, ao ameaçar rotineiramente empresas de mídia com medidas regulatórias caso não silenciem ou demitam repórteres e comentaristas de que não gosta", declarou o democrata.
Antifa
Autor de Antifa: The Anti-Fascist Handbook ("Antifa: O manual anti-fascista) e professor de história na Universidade Rutgers (em Nova Jersey), Mark Bray que a Antifa "não é terrorista nem uma organização única". "Existem vários grupos antifa, mas a Antifa em si não é um grupo. Trump e outros políticos republicanos pediram isso em diversas ocasiões nos últimos 8 anos, e nada aconteceu. Parece ter sido apenas uma forma de mostrar à sua base eleitoral que ele é duro contra a esquerda. Agora isso pode mudar. Poderia ser usado como um termo abrangente para reprimir a esquerda como um todo", advertiu ao Correio.