Rio de Janeiro tem mais de 120 mortos após megaoperação
Subiu para mais de 120 o número de mortos em uma operação policial nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, disseram veículos de imprensa nesta quarta-feira, depois que dezenas de corpos foram enfileirados em uma rua perto de uma região de mata onde foram relatados intensos tiroteios.
Testemunhas da Reuters viram ao menos 60 cadáveres enfileirados na Praça da Penha que, segundo relatos, teriam sido retirados da mata pelos próprios moradores que saíram em busca de parentes após a operação policial iniciada na terça-feira e que avançou pela madrugada desta quarta contra a facção criminosa Comando Vermelho.
“Eu só quero tirar meu filho daqui e enterrar, sabe por quê? Não vai dar em nada. A verdade é essa, não vai dar em nada, porque aqui tem um montão de gente chorando, mas lá fora tem um montão de gente aplaudindo isso aí que eles fizeram, que foi uma chacina”, disse à Reuters a costureira Tauã Brito, cujo filho foi morto na operação de terça.
“É certo? Que operação é essa? Mudou o que? Entraram com algum esporte, algum estudo, alguma coisa de melhoria pra mudar a vida dos jovens? Não mudaram nada!”
Na manhã desta quarta, um grupo de moradores protestava nos arredores da favela da Penha contra a ação policial. Corpos ainda estavam sendo retirados da região de mata.
Na terça, autoridades do governo estadual disseram que ao menos 64 pessoas haviam sido mortas, entre elas quatro policiais. Não havia ainda confirmação oficial sobre se os mortos expostos nesta manhã na Praça da Penha estavam entre os já contabilizados. Autoridades do governo estadual marcaram uma entrevista coletiva para a manhã desta quarta para fazer um “balanço final” da operação.
Fontes da segurança pública fluminense disseram à Reuters sob condição de anonimato que o número oficial de mortos na operação deve aumentar nas próximas horas.
Caso confirmado o número de mortos superior a 120, a operação de terça, que já é a mais letal da história do Rio de Janeiro, deve tornar-se a mais mortal da história do Brasil, superando o massacre no presídio do Carandiru, em São Paulo, em 1992, quando 111 presos foram mortos após uma rebelião em um pavilhão da casa de detenção.
A operação policial aconteceu dias antes de o Rio de Janeiro sediar eventos globais relacionados à cúpula das Nações Unidas sobre o clima COP30, que acontecerá em Belém.
Entre os eventos marcados para o Rio estão a cúpula global de prefeitos que combatem a mudança climática C40 e o Prêmio Earthshot, com a presença do príncipe britânico William, primeiro na linha de sucessão do trono do Reino Unido.
A polícia costuma realizar operações de grande escala contra grupos criminosos antes de grandes eventos no Rio, que sediou os Jogos Olímpicos de 2016, a cúpula do G20 de 2024 e a cúpula do Brics em julho.
(Reportagem de Janaína Quinet, Rodrigo Viga Gaier e Ricardo Moraes; texto de Eduardo Simões; edição de Pedro Fonseca e Roberto Samora)