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O valor do tempo//Alberto Rostand Lanverly (*)

Alberto Rostand Lanverly


Em recente viagem ao interior de Alagoas, já próximo à cidade de Olho D’água das Flores, segui em estrada de barro buscando um vilarejo bem conhecido no município. Após dirigir, por quase trinta minutos, resolvi pedir informações sobre a rota, por imaginar-me perdido.
Estacionando o veículo, dirigi-me à moradora, questionando sobre onde gostaria de chegar. Dona Tereza, este era seu nome, sem pestanejar e deixar de movimentar rapidamente os dedos na perseguição das lêndeas que se uniam aos cabelos da netinha, sempre pitando um cigarro de palha daqueles feitos na roça, com um punhado de tabaco, respondeu: “Sei naum seu Zé. Vorte pro asfarto e pregunte na borracharia.
Fiz ver à doce sertaneja que retornar à BR, seria uma grande perda de tempo. Ela, então, falou: “Espere um pouco pois meu filho está chegando.” Foram dez minutos de conversa com a senhorinha, tempo suficiente para ela me passar flashes de quase toda sua vida, enquanto eu tomava um copo de suco de graviola com dois pedaços de rapadura. Impressionante naquele monólogo, pois somente ela falava. Sua maior preocupação, contudo, era a rapidez como os dias e as horas decorriam ultimamente.
Já informado por Zequinha, o filho recém-chegado, segui adiante pelo caminho de chão batido, sem esquecer aquele encontro, principalmente devido a minha certeza quanto aos minutos voando, ultimamente. Alguma coisa, contudo, devia estar errada pois desenvolvo inúmeras atividades diariamente, em diferentes frentes de trabalho, enquanto a sertaneja Tereza, está ali, sentada, esperando a morte chegar”. Não é possível que o tempo transcorra rápido, tanto para mim, quanto para ela.
A partir de então, mudei meus princípios: fazendo valer o tempo, chegando à conclusão de a vida somente parecer veloz para quem passa por ela. Vivendo intensamente, as horas demoram a acontecer, dando prazo suficiente para concretizar os compromissos assumidos, sem jamais esquecer a necessidade de ser otimista, possuir visão, atitude, compromisso com seus valores e, acima de tudo, controle emocional.
Sem perceber, aqueles dez minutos de proza com Dona Tereza haviam influenciado meu comportamento como pessoa.

 

(*) Presidente da Academia Alagoana de Letras (AAL)

 

 

Alberto Rostand Lanverly

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