
Lula fala em respeito entre ele e Trump, "dois homens de 80 anos"
Presidente afirma estar aberto a conversar com o republicano até pessoalmente, sem temor de ser humilhado, como foram outros chefes de Estado. Segundo ele, tudo pode ser discutido entre os dois, desde que não afete a soberania do Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou, nesta quarta-feira, a conversa que teve com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York. Segundo o chefe do Executivo, "aquilo que parecia impossível, aconteceu", e a conversa ocorreu por acaso, enquanto os dois trocavam de lugar para discursar na tribuna. Lula disse querer estabelecer uma "pauta positiva" entre o Brasil e os EUA na reunião que deve ter com o republicano, por videoconferência ou telefonema, na próxima semana. Também explicou que aceitaria uma reunião presencial e afirmou não temer constrangimentos.
"Eu tive a satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu. E eu fiquei feliz quando ele disse que pintou uma 'química boa' entre nós", declarou Lula, durante coletiva de imprensa na sede da ONU, último compromisso oficial em Nova York. Foi a primeira vez que ele comentou sobre a conversa com Trump. "Como eu acho que a relação humana é 80% química e 20% emoção, acho que é muito importante essa relação, e eu torço para que dê certo, porque Brasil e Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente", acrescentou.
Questionado por jornalistas, o presidente brasileiro negou ter preocupação com um possível constrangimento por parte de Trump em um encontro pessoal, como ocorreu com a visita do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e a do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, ambos humilhados na Casa Branca. "Não há por que ter brincadeira entre dois homens de 80 anos de idade. Ele certamente vai me tratar com o respeito que merece o presidente da República Federativa do Brasil, e eu vou tratá-lo com o respeito que merece o presidente dos Estados Unidos", respondeu.
Na terça-feira, durante discurso na Assembleia Geral, Trump anunciou que havia conversado com Lula e combinado um encontro na próxima semana. Apesar de reforçar críticas sobre uma suposta perseguição judicial no Brasil — sem citar o ex-presidente Jair Bolsonaro — e a prática de altas tarifas contra produtos americanos, o republicano fez elogios ao petista e disse que teve uma "química excelente" com ele. A declaração pegou o governo brasileiro e o mundo político de surpresa, já que, até então, não havia nenhum sinal dos Estados Unidos sobre a possibilidade de negociação com o Brasil.
Para Lula, Trump está "mal informado", e ele espera que a conversa mude a posição do americano sobre as sanções impostas a produtos e a autoridades brasileiras, como a sobretaxa de 50%, a suspensão de vistos e a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e sua esposa.
"Estou convencido de que algumas decisões tomadas pelo presidente Trump se deveu à qualidade das informações que ele tinha sobre o Brasil. Na hora que ele tiver as informações corretas, pode mudar de posição, da mesma forma que o Brasil pode mudar de posição", frisou. O presidente também comentou estar "otimista" com a possível reunião com Trump, apesar da tensão diplomática entre os dois países e das sanções impostas pelos EUA ao Brasil. "Eu acredito muito no poder de convencimento das palavras."
Ele, no entanto, reforçou a defesa da soberania e da democracia brasileiras. "Isso não é discutível. nem com o presidente Trump, nem com nenhum presidente do mundo", acrescentou.
O chefe do Executivo afirmou que os dois países possuem uma série de interesses empresariais, comerciais, industriais, tecnológicos e científicos, e que não vê motivo para que Brasil e Estados Unidos vivam em um momento de conflito. Além disso, destacou não levar em conta diferenças ideológicas ao tratar de relações entre chefes de Estado.
"Eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a gente conversar, e quem sabe em alguns dias, quando a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva entre Brasil e EUA. É isso que eu quero, e eu acho que é isso que ele deve querer também", ressaltou.