
Lula cita chantagem tarifária e critica OMC em reunião do Brics
No encontro virtual, participaram os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, da Rússia e da China, além do Egito, Indonésia, Irã e África do Sul
Em reunião virtual dos líderes dos países do Brics, nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à Organização Mundial do Comércio (OMC) no debate sobre a política dos Estados Unidos de elevar as tarifas de parceiros comerciais.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, estava presente na reunião virtual desta segunda, assim como o presidente chinês, Xi Jinping, e os chefes de Estado do Egito, da Indonésia, do Irã e da África do Sul.
Segundo Lula, a OMC está "paralisada há anos".
"Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais. A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas" , afirmou o presidente.
Segundo ele, as medidas unilaterais ameaçam as instituições e sanções secundárias restringem a liberdade de fortalecer o comércio com países amigos.
Para Lula, o grupo de potência do Sul Global tem “a legitimidade necessária para liderar a refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas às nossas necessidades de desenvolvimento”.
Em seu discurso, Lula citou ainda o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (banco do Brics) na diversificação das bases econômicas e as complementariedades entre os países.
“Juntos, representamos 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia. Reunimos as condições necessárias para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia. Reunimos 33% das terras agricultáveis e respondemos por 42% da produção agropecuária global” , disse.
Elogios à reunião no Alasca
Lula elogiou os esforços por cessar a guerra na Europa. " O encontro no Alasca e seus desdobramentos em Washington são passos na direção correta para pôr fim a esse conflito" , disse
Os presidentes Donald Trump e Vladimir Putin se reuniram no Alasca no início do mês. Eles trocaram elogios, mas não anunciaram acordo pelo fim do conflito na Ucrânia.
Depois, Trump recebeu o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na Casa Branca para conversar sobre o fim da gerra, juntamente com lideranças europeus e disse que marcaria um encontro com Putin e Zelensky, mas a pauta parece não ter avançado.
Ainda na reunião virtual do Brics, Lula não poupou críticas a Trump em relação à Venezuela.
"A presença de forças armadas da maior potência do mundo no mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região", lamentou Lula.
Ele lembrou que o continente não passa por guerras e que há um compromisso de pacificação.
"A América Latina e o Caribe fizeram a opção, desde 1968, por se tornar livres de armas nucleares. Há quase 40 anos somos uma zona de paz e cooperação", destacou.
O presidente brasileiro voltou a criticar, ainda, os ataques israelenses em Gaza. "É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos territórios palestinos", disse.
Segundo ressalto Lula, o terrorismo não está associado a nenhuma religião ou nacionalidade.
"Também não pode ser confundido com os desafios de segurança pública que muitos países enfrentam. São fenômenos distintos e que não devem servir de desculpa para intervenções à margem do direito internacional."
Neste ano, o Brasil está na presidência do Brics.
No contexto de mudanças da geopolítica mundial, em diversos fóruns internacionais, desde o início deste terceiro mandato, Lula vem defendendo a reforma de instituições multilaterais de governança global, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a OMC.
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“Precisamos chegar unidos na 14ª Conferência Ministerial da OMC no próximo ano, no Cameroun”, defendeu Lula.
Criado em 2009, o Brics é formado por Brasil, Rússia, Índia, China - que são os países fundadores - África do Sul – que integrou o bloco logo após a criação, em 2011 – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã – admitidos em 2024.
A reunião desta segunda-feira foi privada e o discurso do presidente foi divulgado pelo Palácio do Planalto.