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Do E.T. à IA: como alienígenas povoam o imaginário popular
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Brasil/Mundo

Do E.T. à IA: como alienígenas povoam o imaginário popular

Redação com web

A iconografia alienígena evoluiu conforme os medos e fascínios da sociedade, refletindo ansiedades de cada época. Dos homenzinhos verdes e discos voadores dos anos 1950 à empatia de E.T. e às críticas sociais de filmes como Distrito 9, os extraterrestres simbolizam o “outro” — o desconhecido, o diferente. Hoje, a inteligência artificial assume esse papel, sendo vista como uma forma de “inteligência alienígena” criada por nós, despertando o mesmo misto de curiosidade e inquietação que antes cercava os seres de outro mundo.

Iconografia alienígena evoluiu ao longo das décadas. Ideia de extraterrestres reflete a forma como definimos o medo, o fascínio e os “outros” entre nós.O que lhe vem à mente ao ouvir a palavra “alienígena”? Homenzinhos verdes com antenas e trajes prateados? Seres de pele cinza e olhos esféricos? Óvnis brilhantes pairando no céu? Chupa-cabra ou ET de Varginha?

Para Christian Peters, cientista social e político, a evolução da iconografia alienígena na cultura pop reflete uma combinação de relatos de testemunhas oculares, discurso cultural e cobertura da mídia.

Peters, diretor da Escola Internacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade de Bremen, na Alemanha, explica como os homenzinhos verdes e os alienígenas de traje prateado da década de 1950 foram sucedidos pelos extraterrestres cinzentos que também figuram no universo dos emojis atuais.

Ele citou o exemplo do livro Communion (1987), o best-seller em que o autor de terror americano Whitley Strieber relata seus supostos encontros com alienígenas. O livro foi posteriormente adaptado para o cinema em 1989, originando o filme Estranhos Visitantes, com Christopher Walken no papel principal.

“A capa do livro apresentava o agora icônico rosto cinza – o tipo de rosto visto por pessoas que afirmam ter tido experiências de abdução ou primeiros contatos [com alienígenas]”, ressaltou Peters.

A mídia também ajudou a consolidar imagens recorrentes de alienígenas. Em 1947, o piloto americano Kenneth Arnold descreveu nove objetos brilhantes cruzando o céu perto do Monte Rainier, no estado de Washington, EUA, dizendo que se moviam “como pires deslizando sobre a água”. Os jornais descreveram as naves como tendo formato de pires, o que deu origem ao termo “disco voador”. A imagem moldou décadas de iconografia dos óvnis.

De invasores a empáticos

A falta de provas definitivas da existência de forças vitais extraterrestres deu aos cineastas liberdade criativa na representação de alienígenas e a capacidade de usá-los como uma representação simplificada das ansiedades sociais.

Na década de 1950, a paranoia da Guerra Fria impregnou filmes como Vampiros de Almas (1956), onde os alienígenas eram amplamente interpretados como infiltrados comunistas. No final da década de 1970 e na década de 1980, o foco se voltou para a exploração corporativa e o medo ecológico.

No filme de ficção científica Alien, de Ridley Scott (1979), uma empresa movida pelo lucro planeja produzir armas usando a composição biológica de um alienígena assassino que ataca os funcionários humanos da empresa.

Já E.T. O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg, apresentou o alienígena como um forasteiro gentil em busca de conexão. Enquanto isso, na década de 1990, a série de televisão de enorme sucesso Arquivo X sugeriu uma conspiração na qual um grupo de elites humanas e uma raça de extraterrestres buscavam colonizar e escravizar a humanidade.

Após o 11 de setembro, o remake Guerra dos Mundos (2005), baseado em obra de H.G. Wells, reimaginou a invasão alienígena como uma catástrofe repentina que causa trauma e deslocamento.

Filmes mais recentes como A Chegada (2016) e Não! Não Olhe! (2022) foram mais introspectivos, explorando o luto, a linguagem e nossa obsessão pelo espetáculo.

Embora muitos filmes de ficção científica com alienígenas tenham sido centrados nos EUA, Distrito 9 (2009), produzido por Peter Jackson, retratou alienígenas como refugiados discriminados em favelas segregadas da África do Sul. Enquanto isso, o filme indiano Você Não Está Sozinho (2003) explorou a exclusão social e a aceitação, através da amizade entre um alienígena e um humano neurodivergente.

Iguais, mas diferentes?

Curiosamente, na maioria das representações ou filmes, muitos desses extraterrestres andam eretos, têm olhos e membros e demonstram emoções suficientes para que os humanos os compreendam. Essa tendência antropocêntrica de ver e interpretar através de uma lente humana ficou evidente no grotesco ser alienígena de Alien, uma criatura inspirada na pintura surrealista de H.R. Giger, Necronom IV.

“Ele é bípede, tem olhos, boca e orelhas”, disse Christian Peters. “Não se diria que é humano, mas é uma espécie de interpretação demoníaca da natureza terrestre – o pior predador que poderíamos conceber.”

A palavra “alienígena” é anterior à ficção científica. Vinda do latim “alienus”, significa “pertencente a outro”, “estrangeiro” ou “estranho”. Em inglês, o termo pode ser usado também para descrever alguém que não é cidadão ou nacional. Em muitos países, a palavra evoca exclusão, suspeita e alteridade, especialmente no contexto dos debates atuais sobre migração e integração.

IA: alienígena criado por nós?

Por fim, a inteligência artificial (IA) – não humana, não biológica e frequentemente descrita como uma espécie de mente alienígena – está remodelando a vida como a conhecemos. Como disse o professor de Harvard, Chris Dede, em uma entrevista de 2023 para a publicação TechTrends sobre chatbots de IA como o ChatGPT: “A IA não é uma forma fraca de inteligência humana. É uma inteligência alienígena.”

Concordando que “a IA é muito alienígena”, Peters acrescentou: “A maneira como a tecnologia que inventamos chega ao resultado final que produz é uma situação historicamente nova que nunca existiu antes.”

À medida que os sistemas de IA se tornam mais complexos e difíceis de interpretar, eles evocam um certo desconforto – algo semelhante à perspectiva de extraterrestres, migrantes ou outros seres percebidos como forasteiros. Talvez esse desconforto não provenha do que esses “outros” são, mas sim de quão pouco realmente entendemos sobre eles.

Redação com web

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