Com dois meses da CPMI, o desafio permanece no ar: cadê o dinheiro dos aposentados?
Prestes a completar 60 dias desde sua instalação em 20 de agosto último, a Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do INSS não tem resposta para elucidar o ponto crucial do esquema que desviou bilhões de reais dos aposentados e pensionistas da Previdência Social: onde está o dinheiro desviado?
Essa é a questão central, fundamental, e também o desafio maior para os deputados e senadores que assumiram um processo investigativo meio que 'paralelo' ao trabalho da Polícia Federal.
O Blog já deixou claro que, se concluir seu trabalho e não apontar o paradeiro da montanha de dinheiro surrupiado (mais de seis bilhões de reais, segundo estimativa da PF), a Comissão Parlamentar terá sido um tremendo fracasso.
Entende-se que deslindar o mega esquema de rapinagem importa, até para apontar os envolvidos, mas ao final de nada servirá se a CPMI não disser onde a dinheirama foi parar e como resgatá-la.
Imagine-se a frustração, lá adiante, com o relator Alfredo Gaspar fechando seu relatório conclusivo com uma frase vazia do tipo "investigamos, ouvimos envolvidos, ligamos as pontas do esquema, identificamos culpados, mas não achamos o dinheiro"...
Identificar e punir os ladrões, vale? Óbvio que vale. Punir com prisão, com devassa do patrimônio, com sequestro de ativos bancários, enfim, com expropriação de bens. Mas o essencial é descobrir onde o grosso da rapinagem está. Em um paraíso fiscal? Nas profundezas de um vulcão inativo? No fundo do mar? Porque seis bilhões de reais não somem, não evaporam. Afinal, os autores são trapaceiros, bandidos, corruptos, não mágicos.
Até aqui, infelizmente, os resultados da Comissão Parlamentar são frustrantes. Midiáticos, com repercussão minguante até nas redes sociais, começam a apontar para o previsível: não passa de um grupo de parlamentares, com maioria bolsonarista, tentando encontrar provas capazes de respingar no presidente Lula.
E isso não surpreende. As CPIs, mistas ou não, são propostas e criadas pela oposição para, isso mesmo, atingir o governo. Oposicionistas apostam numa delação, numa traição, numa inconfidência. Os governistas reagem, também convocam alvos que podem comprometer lideranças da oposição. Um puxa daqui, outro estica de lá. Ataques e revides. Uma guerra sem desfecho prático.
O confronto satisfaz a mídia, mas os articulistas mais atentos e experientes sabem como esse tipo de investigação termina: sem resultados concretos, sem ganhos materiais. Recuperaram o dinheiro roubado? Não. Ao menos descobriram onde a fortuna desviada foi parar? Não. O enredo é conhecido. O dinheiro, anote-se, está retornando à conta dos aposentados, não como efeito da CPMI, e sim por iniciativa do governo federal.
Em termos objetivos, o que a Comissão de Inquérito obteve até agora se deve, basicamente, ao que foi apurado nas investigações efetuadas em operações da Polícia Federal e do próprio TCU. Nada mais.
Por sua vez, bolsonarista confesso, o relator Alfredo Gaspar sabe (até devido a sua condição de ex-procurador de Justiça e ex-secretário de Segurança Pública) que a CPMI não vai devolver o dinheiro de ninguém, mas ainda assim acredita que sua atuação na relatoria pode lhe render dividendos políticos e eleitorais.
E pode, basta a grana aparecer...