Trégua em Gaza entra no último dia com negociações para extensão
A trégua entre Israel e Hamas entra no último dia nesta segunda-feira (27), com negociações em curso para tentar prolongar o acordo que permitiu a libertação de reféns e prisioneiros, assim como entrada de ajuda humanitária de emergência na Faixa de Gaza.
O movimento islamista palestino afirmou em um comunicado que busca “prolongar a trégua além dos quatro dias”, com o objetivo de “aumentar o número de prisioneiros liberados” como estava previsto no acordo.
Uma fonte próxima ao Hamas declarou à AFP que o grupo informou aos mediadores que é partidário de uma extensão de “dois a quatro dias”.
O acordo, negociado pelo Catar com o apoio dos Estados Unidos e do Egito e que entrou em vigor na sexta-feira (24), prevê quatro dias de trégua, a entrada de ajuda humanitária em Gaza, a libertação de 50 reféns dos mais de 200 mantidos em Gaza e a saída de 150 detentos palestinos das prisões israelenses.
Desde sexta-feira, 39 reféns e 117 presos palestinos foram liberados devido ao acordo.
Outros 24 reféns, a maioria tailandeses que trabalhavam em Israel, foram liberados à margem do acordo.
Uma cláusula do acordo permite a ampliação do mesmo para a libertação diária de 10 reféns do Hamas em troca de 30 presos palestinos em Israel.
– “Voltaremos ao nosso objetivo” –
Entre os reféns liberados no domingo está uma menina de quatro anos de nacionalidade americana, Abigail, que ficou órfã no ataque dos Hamas contra Israel em 7 de outubro.
Uma fonte do governo dos Estados Unidos afirmou que a mãe morreu diante da criança e o pai foi assassinado quando tentava proteger a menina. Abigail, que completou quatro anos no cativeiro, buscou refúgio na casa dos vizinhos, onde foi sequestrada.
“Ela sofreu um trauma terrível”, disse o presidente americano, Joe Biden, que defendeu a prorrogação da trégua.
“Meu objetivo e o nosso é garantir que esta pausa continue além de amanhã (segunda-feira) para que possamos ver mais reféns liberados e mais ajuda humanitária”, declarou o presidente dos Estados Unidos.
O primeiro–ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se mostrou ambíguo sobre a questão.
“Os dispositivos preveem a libertação de mais 10 reféns a cada dia e é uma bênção. Mas também disse ao presidente que depois do acordo voltaremos ao nosso objetivo: eliminar o Hamas”, declarou a respeito de uma conversa com Biden.
O chefe de Governo de Israel, que solicitará nesta segunda-feira um “orçamento de guerra” de 30 bilhões de shekels (quase 8 bilhões de dólares, 39 bilhões de reais), afirmou na sexta-feira em Gaza que a ofensiva continuará “até a vitória”.
Israel iniciou a ofensiva contra o território após o ataque do Hamas em 7 de outubro, de violência e dimensão sem precedentes desde a fundação do país em 1948.
As autoridades israelenses afirmam que 1.200 pessoas morreram no ataque dos combatentes do Hamas e que quase 240 foram sequestradas e levadas para a Faixa de Gaza.
Entre os mortos estão mais de 300 militares ou integrantes das forças de segurança israelenses.
No território palestino, alvo de bombardeios incessantes e de uma ofensiva terrestre desde 27 de outubro, a ofensiva israelense deixou 14.854 mortos, incluindo 6.150 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Além disso, a Defensa Civil de Gaza calcula que 7.000 pessoas estão desaparecidas.
– “200 caminhões por dia” –
A trégua ofereceu um alívio aos moradores de Gaza, mas a situação humanitária continua “perigosa” e as necessidades “sem precedentes”, afirmou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA).
A ONU informou que 248 caminhões de ajuda entraram desde sexta-feira na Faixa de Gaza, onde Israel aplica desde 9 de outubro um “cerco total”, que impede o abastecimento de água, comida, energia elétrica e remédios.
“Deveríamos enviar 200 caminhões por dia durante pelo menos dois meses para responder às necessidades”, declarou à AFP Adnan Abu Hasna, porta-voz da UNRWA, antes de informar que em algumas áreas não há “água potável, nem comida”.
“Falam sobre fornecer ajuda e combustível, mas estou no posto de gasolina há nove horas e ainda está fechado”, disse Bilal Diab, um palestino entrevistado pela AFP em Khan Yunes (sul) no domingo.