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The New York Times chama julgamento de Bolsonaro de histórico
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Brasil/Mundo

The New York Times chama julgamento de Bolsonaro de histórico

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Ex-presidente responde por tentativa de golpe; tribunal e governo enfrentam pressões internas e externas

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe após as eleições de 2022 foi classificado pelo The New York Times como um momento histórico para a democracia brasileira.

Segundo o jornal americano, a ação representa uma demonstração de que as instituições do país podem resistir a ameaças autoritárias, mesmo quando envolvem um ex-presidente.

O texto do NYT destaca que, se condenado, Bolsonaro poderá cumprir décadas de prisão. No entanto, a relevância do processo vai além da pena, pois evidencia a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal) para garantir a transição de poder.

Legenda: O Brasil levará o ex-presidente Jair Bolsonaro a julgamento na próxima semana, acusado de tentativa de golpe após perder as eleições de 2022. Se condenado, ele poderá enfrentar décadas de prisão. Muitos brasileiros — e muitos americanos que assistem de longe — veem este momento como um triunfo da democracia. O Brasil, que emergiu de uma ditadura brutal há apenas 40 anos, terá conquistado algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento sob a acusação criminal de que ele tentou se agarrar ao poder após perder uma eleição. No entanto, a forma como o Brasil fez isso deixou o país às voltas com questões incômodas sobre a própria democracia que buscava proteger. Essas questões começam com o Supremo Tribunal Federal (STF). Nos últimos seis anos, o tribunal se concedeu novos poderes extraordinários para confrontar o que considerava uma ameaça extraordinária representada por Bolsonaro e seus ataques às instituições. Pela primeira vez, o tribunal pôde iniciar e conduzir suas próprias investigações abrangentes, mesmo quando a vítima era o próprio tribunal.

ReproduçãoLegenda: O Brasil levará o ex-presidente Jair Bolsonaro a julgamento na próxima semana, acusado de tentativa de golpe após perder as eleições de 2022. Se condenado, ele poderá enfrentar décadas de prisão. Muitos brasileiros — e muitos americanos que assistem de longe — veem este momento como um triunfo da democracia. O Brasil, que emergiu de uma ditadura brutal há apenas 40 anos, terá conquistado algo que os Estados Unidos não conseguiram: levar um ex-presidente a julgamento sob a acusação criminal de que ele tentou se agarrar ao poder após perder uma eleição. No entanto, a forma como o Brasil fez isso deixou o país às voltas com questões incômodas sobre a própria democracia que buscava proteger. Essas questões começam com o Supremo Tribunal Federal (STF). Nos últimos seis anos, o tribunal se concedeu novos poderes extraordinários para confrontar o que considerava uma ameaça extraordinária representada por Bolsonaro e seus ataques às instituições. Pela primeira vez, o tribunal pôde iniciar e conduzir suas próprias investigações abrangentes, mesmo quando a vítima era o próprio tribunal.

O periódico aponta que o tribunal, nos últimos seis anos, assumiu poderes extraordinários para lidar com a ameaça representada por Bolsonaro, concedendo autoridade decisiva ao ministro Alexandre de Moraes.

Durante o governo Bolsonaro (2019-2022), o ex-presidente e seus apoiadores questionaram eleições, ameaçaram juízes e levantaram a possibilidade de um golpe militar, além de disseminar informações falsas pelas redes sociais, pontuou a revista.

O NYT observa que Moraes respondeu com operações, bloqueios de contas e prisões preventivas, medidas que, segundo o jornal, permitiram a transferência de poder mesmo diante da recusa de Bolsonaro em reconhecer a derrota eleitoral.

O periódico também destaca debates sobre os limites do Judiciário brasileiro.

Para exercer essa nova autoridade e perseguir o Sr. Bolsonaro, o tribunal empossou um ministro contundente, Alexandre de Moraes. Durante o período em que Bolsonaro liderou o país, de 2019 a 2022, o presidente e seus apoiadores ameaçaram juízes, questionaram eleições, aventaram a ideia de um golpe militar e desencadearam uma onda de mentiras disseminadas pela internet. Em resposta, o Ministro Moraes ordenou batidas policiais, censurou contas online, bloqueou redes sociais e, em alguns casos, prendeu pessoas sem julgamento. Esses esforços resultaram em uma transferência de poder bem-sucedida, apesar da recusa de Bolsonaro em admitir sua derrota — e agora no rápido processo contra o ex-presidente e seus aliados. Mas também levantou uma questão complexa: será esta uma guinada perigosa e autoritária para a mais alta corte do Brasil? Ou será uma democracia imperfeita se esforçando ao máximo para lidar com uma ameaça autoritária na era da internet?

ReproduçãoPara exercer essa nova autoridade e perseguir o Sr. Bolsonaro, o tribunal empossou um ministro contundente, Alexandre de Moraes. Durante o período em que Bolsonaro liderou o país, de 2019 a 2022, o presidente e seus apoiadores ameaçaram juízes, questionaram eleições, aventaram a ideia de um golpe militar e desencadearam uma onda de mentiras disseminadas pela internet. Em resposta, o Ministro Moraes ordenou batidas policiais, censurou contas online, bloqueou redes sociais e, em alguns casos, prendeu pessoas sem julgamento. Esses esforços resultaram em uma transferência de poder bem-sucedida, apesar da recusa de Bolsonaro em admitir sua derrota — e agora no rápido processo contra o ex-presidente e seus aliados. Mas também levantou uma questão complexa: será esta uma guinada perigosa e autoritária para a mais alta corte do Brasil? Ou será uma democracia imperfeita se esforçando ao máximo para lidar com uma ameaça autoritária na era da internet? "Como o tribunal reagiu? Com ​​várias falhas, com uma série de erros", disse Walter Maierovitch, jurista e desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo. "Esses erros não apagam nem justificam a tentativa de golpe. Mas não devem se repetir."

A reportagem questiona se as ações do STF configuram um movimento autoritário ou se representam uma tentativa de lidar com ameaças autoritárias em um ambiente digital.

Juristas citados, como Walter Maierovitch, afirmam que erros cometidos não justificam a tentativa de golpe, mas não devem se repetir.

A repercussão internacional é abordada pelo NYT. O ex-presidente americano Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo a retirada das acusações contra Bolsonaro, classificando o processo como uma “caça às bruxas” e se identificando com o ex-presidente brasileiro.

Apesar das pressões externas, o texto indica que o governo e o Judiciário não foram enfraquecidos. Lula afirmou que o processo deve prosseguir sem interferência política, reforçando a confiança em Moraes e no STF.

O NYT apresenta ainda dados de pesquisa Quaest sobre a opinião pública: 46% apoiam o impeachment de Moraes, 43% são contra; 52% acreditam que Bolsonaro tentou um golpe, enquanto 36% discordam.

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Para a condenação, três dos cinco ministros do painel devem votar a favor, resultado considerado provável pelo jornal, dada a composição da corte.

Legenda: Durante anos, o Brasil vinha lidando com esse debate sozinho. Então, no mês passado, o presidente Trump interveio. Em uma intervenção impressionante, o Sr. Trump enviou uma carta ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que as acusações contra o Sr. Bolsonaro fossem retiradas. Ele chamou o caso de

ReproduçãoLegenda: Durante anos, o Brasil vinha lidando com esse debate sozinho. Então, no mês passado, o presidente Trump interveio. Em uma intervenção impressionante, o Sr. Trump enviou uma carta ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que as acusações contra o Sr. Bolsonaro fossem retiradas. Ele chamou o caso de "caça às bruxas" e disse que se vê no Sr. Bolsonaro – um líder rebelde perseguido politicamente pelo "Estado Profundo". Desde então, ele lançou uma ofensiva multifacetada de tarifas elevadas, uma investigação comercial e sanções severas ao Juiz Moraes. Essas medidas parecem apenas fortalecer a determinação do governo e do Judiciário brasileiros. "O processo deve prosseguir livremente, sem interferência política", disse o presidente do Brasil, Sr. Lula, em uma entrevista no mês passado. "Posso garantir que Alexandre de Moraes é uma pessoa séria", acrescentou. "Tenho plena confiança no Judiciário para fazer seu trabalho."

O periódico conclui que o processo representa um teste contínuo para a democracia brasileira, com implicações para as próximas eleições presidenciais.

Segundo o NYT, o STF foi forçado a atuar em áreas até então inéditas, enfrentando polarização política e influência digital, enquanto o país observa o equilíbrio entre proteção institucional e limites do poder judiciário.

IG

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