Sem apoio suficiente, assinatura do acordo UE-Mercosul é adiada; entenda
Líderes da União Europeia demonstraram confiança de que o acordo de livre comércio com o Mercosul será assinado em janeiro, após um adiamento provocado pela falta de apoio suficiente na cúpula do bloco, sobretudo devido a preocupações da Itália e da França com impactos no setor agrícola. Embora negociado há cerca de 25 anos e visto por países como Alemanha e Espanha como estratégico para ampliar exportações e reduzir dependências externas, o pacto enfrenta resistência de agricultores europeus e de governos que temem o aumento de importações de produtos agropecuários, o que levou a protestos e exigiu mais tempo para ajustes e salvaguardas.
O chanceler alemão Friedrich Merz e a líder do executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, expressaram confiança nesta sexta-feira, 19, de que a União Europeia seria capaz de assinar um acordo de livre comércio com o Mercosul em janeiro, apesar do apoio insuficiente em uma cúpula da União Europeia.
A presidente da Comissão Europeia deveria ter viajado ao Brasil para uma cerimônia de assinatura no sábado, mas isso dependia da aprovação de uma ampla maioria dos membros da UE. Uma exigência da Itália por mais tempo significa que não havia apoio suficiente.
Von der Leyen ainda falou de um “avanço” após o término da cúpula na sexta-feira.
“Precisamos de algumas semanas a mais para tratar de algumas questões com os Estados membros, e entramos em contato com nossos parceiros do Mercosul e concordamos em adiar um pouco a assinatura desse acordo”, disse ela em uma coletiva de imprensa.
Acordo é negociado há 25 anos
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira que soube do atraso de até um mês pela primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e que consultaria os parceiros do Mercosul na cúpula de sábado sobre os próximos passos.
Meloni disse em um comunicado que a Itália estava pronta para apoiar o acordo assim que as preocupações agrícolas fossem resolvidas, o que, segundo ela, poderia acontecer rapidamente.
Merz disse aos repórteres que algumas semanas a mais para que Meloni convença seu próprio governo e parlamento não eram um problema.
“Isso significa que o Mercosul agora pode definitivamente entrar em vigor. Após a aprovação do governo italiano, continuo esperançoso de que o governo francês também decida dar seu consentimento”, disse ele.
O pacto comercial com a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, que vem sendo construído há cerca de 25 anos, seria o maior da UE em termos de cortes tarifários. A Alemanha, a Espanha e os países nórdicos afirmam que o acordo impulsionará as exportações afetadas pelas tarifas dos Estados Unidos e reduzirá a dependência da China ao garantir o acesso a minerais.
Mas os críticos, incluindo a França e a Itália, temem um influxo de commodities baratas que poderiam prejudicar os agricultores europeus.
A cúpula da UE na quinta-feira provocou um protesto contra o acordo de cerca de 7.000 pessoas, a maioria agricultores, que se tornou violento. A polícia belga disparou gás lacrimogêneo e canhões de água depois que os manifestantes atiraram batatas e pedras e quebraram janelas.
A Polônia e a Hungria se opõem ao pacto, enquanto a França e a Itália continuam preocupadas com o aumento das importações de carne bovina, açúcar, aves e outros produtos. Por causa das regras da UE, é necessária a aprovação do acordo por pelo menos 15 países e representação de pelo menos 65% da população do bloco. Sem a Itália, França, Polônia e Hungria, países contrários ao acordo, o mínimo necessário não é atingido, o que torna os italianos fiéis da balança.
Insatisfação de Macron
O presidente da França, Emmanuel Macron, cujo país é o maior produtor agrícola da UE, disse que o acordo é inaceitável em sua forma atual e que é muito cedo para dizer se as proteções que estão sendo implementadas atenderão às condições da França.
“Não estamos satisfeitos”, disse ele em uma coletiva de imprensa. “Precisamos ter esses avanços para que o texto mude de natureza, para que possamos falar sobre um acordo diferente”, disse ele.
Os parlamentares e os governos da UE chegaram a um acordo provisório na quarta-feira sobre as salvaguardas para limitar as importações de certos produtos agrícolas, como carne bovina e açúcar, e suavizar a resistência. A Comissão Europeia também está preparando uma declaração prometendo padrões de produção alinhados.
Macron disse que a reciprocidade era essencial para que a UE não abrisse seus mercados para importações baratas produzidas sob regras menos rígidas, como o uso de pesticidas.
Alguns tratores que lotaram as ruas de Bruxelas na quinta-feira carregavam faixas que ecoavam o ceticismo de Macron.
“Por que importar açúcar do outro lado do mundo quando produzimos o melhor aqui mesmo? Parem o Mercosul”, dizia um cartaz.