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O turismo brasileiro não foi feito para os brasileiros!
Reprodução/IA
Turismo

O turismo brasileiro não foi feito para os brasileiros!

Realidade

Essa semana um vídeo meu, em uma participação no PodCast “Hora Bolas”, sobre Morro de São Paulo foi amplamente replicado por perfis, páginas e até programas de televisão. Mas, em vez de me procurarem afim de promover um debate sério, muitos preferiram simplesmente postar o corte para distorcer minha fala, alguns me acusando de xenofobia ou preconceito, e transformando o assunto em polêmica rasa para ganhar likes .

O ponto que levantei (e que ninguém quis discutir) é o turismo exploratório no Brasil: Um modelo que se repete em destinos como Morro de São Paulo, onde o brasileiro é excluído como turista, explorado como mão de obra, e ignorado na divisão dos lucros. A estrutura precária, os altos preços e a má distribuição da riqueza mostram que o turismo, aqui no nosso país, não é feito para o brasileiro, e sim para o estrangeiro.

 

Mas vamos falar então do que realmente importa, do buraco mais embaixo: a situação do turismo em Morro de São Paulo. A realidade lá por lá é precária e escancara o problema. Nos últimos tempos, o lugar enfrenta acidentes constantes (como colisão de lanchas, até com morte de turista), incêndios frequentes, assaltos, e mesmo assim se cobram taxas elevadas dos visitantes. As pessoas pagam para entrar na ilha e não veem retorno: o lixo se acumula nas praias, a infraestrutura é deficiente e a segurança falha. O atendimento ao turista? Deixa muito a desejar, e os preços cobrados estão altos demais para o que o destino oferece. Em outras palavras, o turista ali muitas vezes é visto apenas como um uma fonte de renda que está ali para ser explorado, pagando caro por serviços de baixa qualidade.

Isso é o que chamei de turismo exploratório: sugar o máximo do visitante e dar o mínimo em troca. E enquanto isso, quem é que lucra? Os grandes empresários do turismo, os donos de pousadas, restaurantes, hotéis e resorts. Muitos desses donos nem da região são... a gente percebe que o lugar está nas mãos de grandes investidores de fora, muitas vezes estrangeiros, voltado só para atender turismo internacional de luxo. Eles ficam com a parte boa: o lucro gordo, os bolsos cheios. Já os trabalhadores locais ficam com a parte difícil: são eles que ralam, carregam mala, servem mesa, fazem a limpeza, guiando turistas, muitas vezes por salários baixos e condições instáveis. O resultado é uma injustiça gritante, a comunidade local trabalha pesado, mas é explorada e vê pouca melhoria na sua própria terra. O dinheiro não circula de verdade ali, não melhora a vida do morador comum. E isso precisa ser dito! Não dá pra romantizar um destino paradisíaco enquanto a população local não colhe os frutos e ainda enfrenta perrengue. O turismo brasileiro está se tornando coisa de elite. Há uma elitização real: preços inacessíveis que excluem o povo. Afinal de contas, não é coincidência que 8 em cada 10 famílias brasileiras não tenham feito nenhuma viagem a lazer no último ano. Segundo dados do IBGE, a principal razão é simples: falta de dinheiro mesmo. Viajar dentro do Brasil virou artigo de luxo. Hospedagem, passagem de avião, alimentação, tudo caro. Em muitos destinos turísticos nacionais, os preços foram lá pro alto e não pensam no bolso do brasileiro comum. Quer ver um exemplo? Em épocas de alta temporada, como réveillon no Rio de Janeiro ou Carnaval em Salvador, os valores de hotéis e pousadas explodem… dobram, triplicam, às vezes quadruplicam ou até quintuplicam. É isso mesmo: a mesma diária pode custar 4 ou 5 vezes mais dependendo da época. Quem consegue bancar esses valores? Só uma minoria rica. O trabalhador médio certamente não consegue. Assim, o brasileiro acaba se sentindo um estranho no próprio país, excluído das melhores experiências que ele deveria ter direito. Isso tudo só prova de como o turismo interno anda deturpado.

A coisa chegou num ponto em que viajar pra fora do país pode sair mais barato do que viajar aqui dentro. Parece piada, mas não é. Tem muito brasileiro descobrindo que, às vezes, compensa mais financeiramente conhecer o exterior do que o próprio Brasil. Por exemplo, hoje sai mais em conta pegar um pacote pra uma ilha no Caribe, San Andrés, na Colômbia, por exemplo, do que visitar Fernando de Noronha, aqui no nosso território. Inacreditável, mas verdadeiro. Enquanto em Noronha você paga caro em taxas diárias de preservação, hospedagem e passeios, em destinos internacionais você encontra promoções, voos e hotéis a preços mais acessíveis. Isso é um contrassenso total: deveríamos conseguir viajar pelo nosso país por um preço justo, mas acabamos muitas vezes optando por ir pro exterior porque sai menos caro. E olha que nem tô falando de poder aquisitivo alto não, muitas vezes, a classe média junta suas economias e percebe que conhece Paris ou Cancún antes de conhecer Jericoacoara ou os Lençóis Maranhenses, porque aqui tudo custa o olho da cara. Não devia ser assim. E o resultado disso tudo? Milhões de brasileiros não conhecem as maravilhas do seu próprio país. Esse é o ponto que mais dói.

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Quantos brasileiros nunca viram de perto as Cataratas do Iguaçu, uma das maiores belezas naturais do mundo? Quantos nunca pisaram nas praias espetaculares do Nordeste, nunca sentiram o friozinho gostoso de Gramado ou Campos do Jordão, nunca mergulharam nas águas cristalinas de Bonito? A maioria, infelizmente. Tem brasileiro que viaja pra fora, mas não tem chance de conhecer o Nordeste; tem gente que mora no interior e nunca viu o mar; Isso é muito triste. Nosso país é gigantesco e riquíssimo em destinos turísticos, de todos os tipos para todos os gostos, praia, floresta, cultura, história, gastronomia – mas o próprio povo brasileiro está sendo impedido de aproveitar tudo isso, seja por preço abusivo, seja por falta de estrutura e divulgação. Estamos falhando com a nossa gente quando o turismo interno vira privilégio de poucos. Por isso, meu tom aqui é de desabafo, mas também de apelo. É um apelo com autoridade de quem viu e viveu essas injustiças, e com empatia por cada brasileiro que compartilha desse sentimento.

Chega de distorcer o debate e tentar pintar crítica construtiva como preconceito. Eu amo o Brasil e acredito no potencial do nosso turismo, mas um turismo diferente, inclusivo de verdade. Precisamos construir um turismo voltado para o brasileiro. Um turismo em que o brasileiro seja bem-vindo em qualquer canto do Brasil sem se sentir explorado ou excluído. Em que ele possa viajar pra Morro de São Paulo, pra Noronha, pra Amazônia, pra qualquer lugar sem precisar vender um rim pra pagar a conta, sem passar sufoco com transporte precário, sem ser mal atendido ou feito de bobo. Turismo que respeite tanto o visitante quanto a comunidade local. Que gere emprego digno pro trabalhador local, que distribua renda na região, que valorize as nossas culturas e belezas sem destruí-las ou privatizá-las só pra meia dúzia.

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