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O som do 'eiro' e a alma do brasileiro
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Alberto Rostand

O som do 'eiro' e a alma do brasileiro

Alberto Rostand Lanverly
Alberto Rostand
Alberto Rostand

Recentemente em João Pessoa, durante intervalo das atividades do encontro nacional de Presidentes das Academias Estaduais de Letras, escutei bate papo entre dois passantes, sobre a diferença existente entre o motociclista e o motoqueiro. Em suas opiniões, o primeiro caracteriza-se pela cordialidade na pista, o segundo pela pressa, exigência do trabalho, muitas vezes deixando a agressividade prevalecer.

Imediatamente lembrei quando décadas atrás, grande querido que comigo não mais está, chamou atenção sobre a aplicação do sufixo “eiro”, esclarecendo que enquanto muitas nacionalidades do mundo se expressam por meio da terminação “ano”, como italiano, mexicano, americano ou coreano, o Brasil revela sua originalidade também na língua. Somos brasileiros, filhos de uma terra que escolheu ressoar diferente.

Tal finalização do termo, ensinou-me, designava ocupação ou vínculo, assumindo no português pátrio, sentido mais amplo pois “brasileiro”, no início, não significava quem nascia no Brasil, mas quem trabalhava com o pau-brasil, o “brasil-eiro”. Com o tempo, a palavra se libertou do ofício e abraçou o povo. Passou a nomear não o que se fazia, mas quem se era.

Assim, enquanto o “ano” de outros povos denota origem geográfica, o nosso “eiro” carrega a força de uma feição histórica e humana, traduzindo o fazer e o acontecer, ação e alma, vez que ser brasuca verde e amarelo, é participar da contínua feitura de um país plural, em visível evolução.

No sufixo “eiro” ecoa o espírito do ofício, criatividade, luta e mistura, que o diga o pedreiro, marceneiro, costureiro, cozinheiro, ferreiro, padeiro, sapateiro, vidraceiro, relojoeiro. É o som de um povo que trabalha, canta, cria, sonha e transforma.

Desde então cada dia mais assimilei a certeza, de que enquanto o mundo se anuncia em “anos”, nós desabrochamos em “eiro”. O “ano” pertence à terra, o “eiro” simboliza o fazer, pois o brasileiro é obra em permanente construção, mistura de suor e sonho, luta e poesia, porque em nosso torrão, mais do que nascer, pessoas se fazem. Talvez por tais motivos, eu tenha resolvido ser engenheiro.

 

(*) Presidente da Academia Alagoana de Letras

Alberto Rostand Lanverly

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