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Com PF em ação, desvios de emendas atingem em cheio ex-assessora e expõem Arthur Lira
Mariângela diz que cumpria ordens de Lira
Romero Belo

Com PF em ação, desvios de emendas atingem em cheio ex-assessora e expõem Arthur Lira

Romero Vieira Belo
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Até que se prove o contrário, Arthur Lira não deve ser acusado pelas falcatruas atribuídas a Mariângela Fialek, sua assessora no período em que presidiu a Câmara dos Deputados.
Mas o assunto é denso e tenebroso. Investigação da Polícia Federal concluiu que Mariângela "exercia controle sobre os desvios de emendas do orçamento secreto".
Com base no que foi levantado pela PF, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, retirou o sigilo da decisão que determinou a operação contra desvios de emendas parlamentares.
Trata-se de um tema delicadíssimo envolvendo muitos milhões de reais, montanhas de dinheiro público desviado pelos túneis do esquema que ficou conhecido como orçamento secreto.
Lira não é citado como 'envolvido' no esquema, mas seu nome apareceu de forma instantânea associado à descoberta da Polícia Federal por uma circunstância vinculante: a principal acusada era sua assessora enquanto ele esteve no comando da Câmara.
Situações do tipo remetem logo a uma possibilidade que não se pode descartar: uma delação premiada de Mariângela ante um possível agravamento de sua posição no caso.
Por enquanto, nada a temer. STF, PGR e PF deixaram claro que Arthur Lira "não é alvo das investigações". A Operação Transparência, que investigou Mariângela, foi determinada pelo ministro Flávio Dino, e a Procuradoria Geral da República apoiou as medidas cautelares já adotadas.
Em trecho ressaltado na decisão do ministro Dino, a PGR afirma:
"Mariângela Fialek desponta exercer o controle de indicações desviadas de emendas decorrentes do orçamento secreto em benefício de uma provável organização criminosa voltada à prática de desvios funcionais e crimes contra a administração pública e o sistema financeiro nacional".
O episódio expõe Lira porque a figura central de mais um 'caso de polícia' descoberto no Congresso era uma assessora que organizava a indicação das emendas parlamentares, ocupando sala destinada à presidência da Casa. Ela atuava "diretamente na operacionalização do encaminhamento de emendas" e, segundo destacado pelo portal G1, "efetuava as indicações em nome de Arthur Lira, ex-presidente da Câmara".
O desvio de emendas empurrou vários deputados para oitivas nas investigações, dentre eles Glauber Rocha, desafeto de Lira e sobrevivente do processo de cassação do mandato por ter agredido um manifestante em via pública.
Na votação para puni-lo, em cima da hora o plenário da Câmara descartou a cassação e impôs a Glauber uma pena de suspensão do mandato por seis meses, o que enfureceu Arthur Lira. O alagoano chamou a sessão da votação de "esculhambação" e disse que a Casa estava  "sem comando", esquecendo que ele ajudou a colocar Hugo Motta na presidência.
Ainda não dá para prever o desdobramento do processo em cima de Mariângela Fialek, também conhecida como 'Tuca', mas a mão pesada de Flávio Dino poderá induzi-la a 'abrir o bico', como fez, por exemplo, o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordem do ex-presidente Jair Bolsonaro, no processo da trama golpista do 8 de Janeiro.
Em sua própria defesa, 'Tuca' já se manifestou afirmando que tudo que fazia era "cumprindo ordens do comando e da presidência" da Casa.
O presidente Hugo Motta saiu em defesa da funcionária, garantindo que ela "só praticou atos dentro da legalidade", mas se trata de manifestação muito comum nesses casos.
Enquanto isso, o velho Congresso se desgasta com mais um rolo de consequências imprevisíveis, que ganha força e repercussão no exato momento em que Arthur Lira trabalha com afinco, aqui em Alagoas, tentando melhorar sua posição na difícil batalha por uma vaga no Senado Federal, nas eleições do próximo ano.

 

Romero Vieira Belo

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