
Mapa Nacional revela 187 estupros por dia no Brasil em 2025

Especialistas reforçam a importância da denúncia e do suporte oferecido por serviços como a Casa da Mulher Paulista, em São Bernardo
O Mapa Nacional da Violência de Gênero, divulgado nesta terça-feira (26), traz dados preocupantes sobre a realidade da violência contra a mulher no Brasil. Apenas nos seis primeiros meses de 2025, o país registrou 34 mil casos de estupro, uma média de 187 vítimas por dia. O levantamento também aponta que mais de 418 mil mulheres foram vítimas de diferentes tipos de violência, incluindo casos de ameaça, lesão corporal, homicídios e feminicídios.
Os números, segundo especialistas, representam apenas a ponta do iceberg, já que muitas mulheres ainda não denunciam seus agressores. De acordo com o Mapa, a maioria dos episódios de violência ocorre dentro da própria residência da vítima, evidenciando a vulnerabilidade no espaço que deveria ser de proteção.
Em São Bernardo do Campo, a Casa da Mulher Paulista, administrada pela ONG Ficar de Bem em parceria com a Prefeitura, atua como um espaço de acolhimento e enfrentamento a essa realidade. O local oferece, ao longo do ano, atendimentos especializados para mulheres em situação de violência, funcionando de portas abertas, sem necessidade de encaminhamento de outros serviços municipais. A instituição conta com suporte jurídico, psicológico e assistência social, além de promover iniciativas voltadas à autonomia e emancipação financeira das assistidas.
A psicóloga e gerente de projetos da ONG, Sara Gonçalves, reforça que o acolhimento psicossocial é um dos pilares para que a mulher consiga romper o ciclo da violência. “Muitas chegam fragilizadas, com medo ou até mesmo sem reconhecer a gravidade da situação. Nosso papel é oferecer escuta qualificada, apoio emocional e caminhos para que retomem suas vidas com segurança”, explica.
O aumento dos casos de violência contra mulheres no Brasil é um reflexo de uma realidade estrutural que exige atenção imediata. Para o advogado Francisco Gomes Junior, comentarista jurídico e ex-conselheiro da OAB São Paulo, a Lei Maria da Penha é um dos principais instrumentos de proteção, permitindo que a vítima solicite medidas protetivas de urgência, como afastamento do agressor, restrição de contato e imposição de limite mínimo de distância. “Tais medidas costumam ser deferidas em caráter emergencial, muitas vezes em até 48 horas, justamente para resguardar a integridade da mulher”, comenta.
O especialista lembra ainda que a assistência jurídica gratuita está garantida pela Constituição e pode ser acessada por meio da Defensoria Pública. Além disso, Centros de Referência de Atendimento à Mulher oferecem suporte psicológico, social e encaminhamentos necessários, criando uma rede de apoio para que a vítima não enfrente o processo sozinha, como é o caso da Casa da Mulher Paulista.
Assim como o advogado, a psicóloga da ONG também ressalta a importância da denúncia. As mulheres podem procurar uma Delegacia da Mulher ou qualquer delegacia comum, registrar boletim de ocorrência e, em casos de risco imediato, acionar o Ligue 180 (canal nacional de atendimento e orientação) ou 153 (Patrulha Guardiã Maria da Penha). Para eles, romper o silêncio é fundamental para a efetividade das políticas públicas e para que o Judiciário possa agir em tempo hábil, garantindo proteção à vítima e responsabilização ao agressor.
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