
Licença-paternidade é valorizada por homens, mas pouco acessada por medo e desinformação

Enquanto 69% dos pais brasileiros dizem que o benefício impacta sua permanência na empresa, 4 bilhões de dólares em benefícios foram desperdiçados nos EUA
Com a aproximação do Dia dos Pais, uma pauta muitas vezes negligenciada volta ao radar do mundo corporativo: a licença-paternidade. Embora cresça o número de homens que desejam participar ativamente dos cuidados com os filhos desde os primeiros dias de vida, o ambiente profissional ainda impõe barreiras sutis, mas persistentes.
A edição 2024 da pesquisa Radar da Parentalidade, realizada pela consultoria Filhos no Currículo em parceria com o Talenses Group, revelou o tamanho do desafio e constatou que 69% dos pais brasileiros afirmam que uma licença-paternidade estendida influenciaria diretamente sua decisão de permanecer ou sair de uma empresa. O benefício já figura entre os cinco mais valorizados por profissionais homens. Além disso, 81% consideram inaceitável qualquer forma de discriminação contra pessoas que têm filhos.
Ainda assim, o medo de se afastar do trabalho permanece comum. Alguns pais desconhecem o próprio direito e outros relatam receio de perder o emprego ao solicitar o afastamento. Para Rodrigo Vianna, CEO da Mappit e cofundador do Talenses Group, essa resistência não se resume a um medo individual, mas expõe um modelo de masculinidade ainda dominante nas empresas. “Existe uma ideia de que o bom profissional é aquele que não se permite parar, nem mesmo diante do nascimento de um filho. É como se trabalho e paternidade ocupassem territórios opostos, quando na verdade deveriam se alimentar mutuamente.”, afirma.
Rodrigo defende que a licença-paternidade estendida também deve ser encarada como parte de uma estratégia corporativa mais ampla. “Ambientes que acolhem pais e mães, conseguem reter mais talentos, formar equipes mais engajadas e fortalecer a confiança entre liderança e colaboradores. Quando o cuidado com a família é respeitado, todo o ecossistema da empresa se transforma”, explica.
Além disso, o executivo destaca como a vivência da parentalidade pode contribuir diretamente para o desenvolvimento de habilidades valorizadas no mercado de trabalho. “Empatia, resiliência, escuta ativa e capacidade de priorização são competências que a paternidade exercita de forma profunda. Criar uma cultura que reconhece isso não é apenas uma questão de direitos ou benefícios, mas de acolher habilidades valiosas.”
Nesse contexto, ganha destaque o trabalho da Coalizão pelo Avanço da Licença Paternidade (Copai), uma articulação entre empresas, organizações e especialistas, dedicada a ampliar o acesso à licença-paternidade no Brasil. A coalizão atua promovendo o debate público, produzindo dados e apoiando empresas que queiram adotar políticas mais equitativas em relação à parentalidade. Ao reunir líderes do setor privado e da sociedade civil, a Copai busca acelerar mudanças estruturais no mundo corporativo, incentivando práticas que possibilitem o cuidado compartilhado desde os primeiros dias de vida do bebê.
À medida que o Dia dos Pais se aproxima, vale refletir com mais seriedade sobre as consequências da ausência de uma cultura corporativa que também apoie a paternidade. Quantos profissionais continuam se afastando silenciosamente do mercado, por não encontrarem esse espaço, e quantos pais deixam de estar presentes nos primeiros meses de vida dos filhos, muitas vezes impactando também sua relação com a mãe da criança e perpetuando desigualdades que já começam no berço? Trata-se de um tema que vai além de políticas de RH. É uma questão de estrutura, de escolhas institucionais e de responsabilidade com as pessoas.