
Chupeta anti-estresse? Nova moda traz problemas e não substitui terapia
Nova tendência pode indicar vontade de deixar de ser adulto e os danos bucais causados por ela podem exigir tratamentos longos
É muito comum que crianças pequenas recorram ao uso da chupeta como forma de se acalmar. Mas e quando adultos começam a se valer do mesmo recurso?
Uma moda recente nas redes sociais têm mostrado jovens, especialmente na China e Coreia do Sul, recorrendo ao acessório infantil como forma de aliviar a ansiedade e o estresse, além de ajudar a reduzir sintomas de abstinência ao parar de fumar. No entanto, além de não haver evidências do bem que esse hábito pode trazer, ele pode causar problemas bucais.
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Regressão ou vontade de voltar a ser criança?
Geralmente, crianças pequenas recorrem à chupeta como forma de lidar com a ausência do peito materno, que significava uma ligação constante com essa figura de mãe, que nutre. Nos adultos, isso pode significar a necessidade de recorrer a técnicas do passado para lidar com um problema presente. "Quando adultos usam símbolos tão ligados à primeira infância, como a chupeta, estamos vendo um movimento de regressão. É uma tentativa de lidar com pressões emocionais por meio de comportamentos que remetem ao conforto e à segurança de fases mais iniciais da vida", considera a psicóloga e psicanalista Fabiana Guntovitch.
Para ela, além de forma de autorregular as emoções, o símbolo da chupeta pode ser uma forma de comunicar que se está cansado de ser adulto. O problema, é que esse tipo de estratégia não atua nas causas da ansiedade. "Podendo gerar dependência psicológica e dificultar o desenvolvimento de recursos internos mais maduros", considera a psicóloga Maria Klein.
Geralmente, quando se é preciso retornar à recursos da infância para lidar com uma situação na vida adulta, isso significa que é preciso construir formas novas de lidar com determinado desafio.
Klein ainda reforça como esses comportamentos acabam se propagando na internet e são imitados por curiosidade, sem uma reflexão sobre seus impactos. "Essa dinâmica reforça a importância de desenvolver consciência emocional e discernimento, para que escolhas não sejam guiadas apenas pela pressão social ou pelo imediatismo das redes", reforça a especialista.
Para ambas, existem outras formas de lidar com a ansiedade e as pressões da vida adulta, como a psicoterapia, que vai trabalhar justamente na construção de novas recursos e meios de manejar situações desafiadoras do dia a dia.
Problemas além da mental: saúde bucal fica em risco
Apesar de não existirem estudos científicos que mostrem os efeitos do uso da chupeta por adultos, sabe-se que ele é um hábito ruim em qualquer idade. "O bico altera a posição de fechamento dos arcos, com lábios vedados. O uso prolongado poderá provocar desalinhamento dos dentes, desconforto temporomandibular, além de reflexos na respiração e na estética do sorriso", descreve a dentista Sandra Silvestre, conselheira do CFO (Conselho Federal de Odontologia), especialista em Ortodontia e mestre e doutora em Odontopediatria.
Ele reforça como esse tipo de prejuízo pode exigir tratamentos prolongados, envolvendo o uso de aparelhos dentais. "Um risco que não vale a pena", aponta a especialista, que ainda reforça como chupetas indicados ao público adulto não possuem venda regualizarada no Brasil.