Homem que arrastou mulher e causou amputação diz não ter visto corpo embaixo de carro
Douglas Alves da Silva, de 26 anos, foi preso por tentativa de feminicídio após atropelar e arrastar Taynara Souza Santos por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê. A defesa afirma que ele não conhecia a vítima e que agiu impulsivamente após uma briga no bar, alegando não ter percebido que Taynara ficou presa sob o carro. Já a família e os advogados da vítima dizem que os dois tiveram um breve envolvimento e que o ataque foi motivado por ciúmes. Câmeras registraram o momento em que Douglas discute com Taynara e avança com o veículo. A jovem sofreu amputação das duas pernas e permanece na UTI. Douglas foi preso no dia seguinte, após tentar fugir, e relata ter sido agredido na abordagem, o que a polícia nega.
O homem apontado como responsável por atropelar e arrastar de forma intencional Taynara Souza Santos, de 31 anos, por cerca de um quilômetro na Marginal Tietê, afirma que não conhecia a vítima e que não percebeu que o corpo dela estava preso embaixo do seu carro. Ao Estadão, o advogado de Douglas Alves da Silva, de 26 anos, preso por tentativa de feminicídio, diz que o suspeito não nega a autoria do crime, mas que nunca chegou a se relacionar com Taynara. “Nunca teve nenhum relacionamento com ela”, afirmou Marcos Tavares Leal.
Segundo a defesa, Douglas se desentendeu com um outro homem, de nome Lucas, no bar onde estavam, na Vila Maria (zona norte), e tomou uma garrafada durante a briga. “Ele então foi embora, pegou o carro e, numa atitude impensada, jogou o carro nele”, afirma Leal. O advogado afirma ainda que Douglas viu que Taynara foi atingida, mas não percebeu que ela continuou presa sob o veículo. “Ele estava com o vidro fechado, com o som ligado e não teve noção que a menina estava debaixo do carro”, acrescenta o defensor, que diz que Douglas saiu de lá com medo de ser linchado por pessoas que viram a cena.
Em depoimento à Polícia Civil, obtido pela reportagem, Douglas relatou uma versão semelhante. Diz que brigou com o suposto companheiro de Taynara para defender um amigo, identificado como Kauan, que teria se desentendido com este homem que acompanhava a vítima. A versão da defesa de Douglas contraria os advogados que representam a família de Taynara. À reportagem, Wilson Zaska e Fabio Costa afirmam que Douglas e a vítima já tiveram um breve relacionamento no passado, e que o condutor do veículo a agrediu por ciúmes, por ela estar acompanhada de outro rapaz.
O irmão de Taynara, Luan Santos, relatou ainda que Douglas morava nas proximidades e era conhecido por se envolver em brigas na região. Segundo Luan, a irmã era solteira e não mantinha relacionamento com Douglas. Câmeras de monitoramento próximas ao bar onde o atropelamento foi iniciado mostram Douglas e Taynara discutindo na rua antes de ele avançar com o veículo sobre ela. As imagens mostram ainda o carro sendo acelerado, mas permanecendo no lugar por alguns segundos. Para a polícia, Douglas teria pisado no acelerador com o freio de mão puxado para aumentar a força de atrito do veículo com o solo e, assim, machucar ainda mais a vítima.
Taynara chegou a ser arrastada por cerca de um quilômetro e ficou gravemente ferida. Ela foi socorrida, mas precisou amputar as duas pernas. Ela segue internada na UTI do Hospital Municipal Vereador José Storopolli e foi submetida a uma nova cirurgia no quadril nesta terça-feira, 2. Douglas foi preso no domingo, 30, um dia depois do crime, em um hotel da Vila Prudente, na zona leste da capital.
De acordo com o boletim de ocorrência, Douglas teria entrado em luta corporal com um agente durante a abordagem e sofrido um tiro no braço. Ele foi hospitalizado antes de ser levado à delegacia para prestar depoimento. A Polícia Civil suspeita que Douglas pretendia fugir para o Ceará. O caso foi registrado como captura de procurado, resistência e lesão corporal – um agente foi ferido no dedo quando Douglas tentou tomar sua arma – na 4ª Delegacia Seccional/Norte. A Polícia Civil solicitou exames periciais no quarto onde o suspeito foi preso e nas lesões sofridas por Douglas e pelo agente.
Marcos Leal, advogado de Douglas, afirma que, durante a audiência de custódia, seu cliente relatou que foi agredido por policiais no momento da prisão. O defensor diz que o juiz responsável determinou o envio de ofícios para a Corregedoria da Polícia Civil e para o Instituto Médico-Legal (IML), além de solicitação de tratamento médico imediato. Questionada sobre as supostas agressões, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informa que a abordagem “cumpriu todos os requisitos necessários e foi realizada dentro dos parâmetros de legalidade”.
“Ele foi autuado em flagrante por resistência e desobediência e levado à delegacia para os procedimentos de polícia judiciária após receber atendimento médico. Ao passar por audiência de custódia, permaneceu preso por decisão da Justiça“, acrescentou a pasta.