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Decidida: Bianca Nunes busca mandato parlamentar
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Política

Decidida: Bianca Nunes busca mandato parlamentar

Romero Belo

Miss trans, modelo, consagrada influencer – com esses títulos e uma visão pluralista sobre gêneros, Bianca Nunes está pronta para largar na maratona eleitoral que se avizinha. É algo novo na política alagoana: representante do universo LGBTQIAPN+, Bianca se sobressai pela inteligência, conhecimento das questões que aborda e, especialmente, pela firmeza de suas opiniões. 

Com espaço no MDB – maior partido de Alagoas – e determinada a materializar suas ideias e projetos no contexto da política partidária, Bianca Nunes será candidata a deputada estadual defendendo uma agenda voltada para segmentos discriminados como os LGBTQIAPN+, os índios, os negros e os rejeitados pela visão elitista de parte considerável da sociedade. 

A entrevista a seguir foi concedida ao jornalista Romero Belo. 

Primeira Edição - Como se sente estreando no mundo político-partidário já na condição de pré-candidata a deputada estadual? 

Quando recebi o convite foi realmente uma surpresa. Minha cabeça foi a mil. Durante muito tempo fui alguém que tinha horror de política e de políticos. Até que uma amiga me falou uma frase de Platão. 

"Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Essa frase mexeu comigo. Sempre, em todos os meus trabalhos dentro e fora da internet, lutei por respeito as diferenças, mas foi está frase que me fez ver que se eu realmente quisesse fazer uma sociedade diferente, eu teria que entrar na política. Precisamos de outras leis, precisamos dar voz a quem sofre de violência. Ser deputada estadual para mim é isso! É ter a chance de representar minorias que precisam ser ouvidas, porque estão desesperadas atrás de melhores condições para viver . Por isso, me sinto muito honrada com o convite e a oportunidade. 

Primeira Edição - Acha que a função legislativa é a via natural para lhe possibilitar um trabalho efetivo em prol da comunidade ou tem em mente buscar, mais adiante, um cargo executivo? 

Estou focada no legislativo. Como a campanha política para o executivo é maior, muitas vezes as pessoas não dão a devida importância para o legislativo. Mas, é nele que as leis, as propostas, as emendas e os projetos passam para que a vida da população possa ser transformada. É o legislativo que aprova o orçamento para cada setor, que fiscaliza o executivo. Precisamos de representatividade das minorias, dessas pessoas que sofrem todo tipo de violência, no legislativo. Não sei se um dia vou querer migrar para o executivo, só sei que agora estou "arregaçando as mangas" porque vejo pela primeira vez a oportunidade de poder fazer uma diferença real na vida de muita gente. E estou focada nesse objetivo. 

Primeira Edição – Considerando que sua presença na campanha eleitoral causa certo impacto e repercute, sobretudo, por sua história de vida e pela firmeza de suas posições, isso pode lhe beneficiar nas urnas? 

Pode me beneficiar e me prejudicar. Quem não respeita pessoas LGBTQIAPN+, quem acha que existe justificativa para praticar algum tipo de violência, quem não aceita pessoas negras ou indígenas... Nem vai perder tempo para me conhecer, para ver minhas propostas. Não vai criar espaço para ouvir as vozes que represento. Alagoas é o estado brasileiro que mais mata pessoas como eu. Então, sei que terei muita rejeição e estou indo atrás de quem acredita que precisamos respeitar as diferenças se quisermos realmente um mundo melhor. 

Primeira Edição - Como se sente observada, por homens e mulheres, em face de sua condição de ‘mulher trans’, influenciadora digital e modelo famosa? 

Tenho muito orgulho da minha história. Por isso, me sinto bem quando sou observada. Sei que só conseguirei criar a transformação que quero, se eu conseguir ser vista. As pessoas precisam enxergar pessoas como eu, como seres humanos. Não somos doentes, não somos algo que precisa ser exterminado da sociedade. Somos seres humanos que como qualquer outro tem o direito de existir, de ser respeitado e deveres a cumprir. 

Primeira Edição - Como tem sido sua convivência dentro do MDB, partido que Vc. escolheu para ingressar na política?                                                             

Estou chegando. Sei que causo estranheza e curiosidade para muita gente. Sei que tem gente que acha um absurdo ver uma mulher trans concorrendo à deputada estadual, mas a maioria, com quem tenho falado, me acolhe, vê em mim uma oportunidade de transformação política e social. Eu escolhi o MDB porque enxerguei no partido a chance de ter espaço para fazer a diferença. Não quero participar dessa polarização entre esquerda e direita. Acredito que em nenhum extremo existe o respeito. Precisamos neste momento de diálogo, de projetos que atendam às necessidades reais da população e o MDB me abriu essa possibilidade. Por isso, só posso dizer que a convivência até aqui está sendo muito construtiva e rica com a criação de projetos e estruturação de ações. 

Primeira Edição - Em caso de vitória nas urnas, já teria desenhado seu primeiro projeto a ser apresentado à Assembleia Legislativa? 

Sim. Estamos finalizando um projeto para trazer para Alagoas o acolhimento em casas especiais, para pessoas LGBTQIAON+ e vítimas de violência, com o objetivo de capacitar essas pessoas para o mercado de trabalho. Sabemos que muitas dessas pessoas são expulsas de suas casas ou fogem e acabam tendo que se prostituir para se manterem.   

Outra proposta é abrir diálogos sobre as diversas formas de violência. A ideia é criar espaços para que as pessoas tomem consciência e saibam o que devem fazer diante de uma ação violenta. O debate, o diálogo é o melhor caminho para construirmos uma sociedade mais justa para todo mundo. 

Primeira Edição - Além da bandeira em defesa do público LGBTQIAPN+, quais segmentos pretende representar e defender no Parlamento estadual? 

Nossa bandeira número 1 é o combate a qualquer forma de violência. Seja a população LGBTQIAPN+, as mulheres, aos negros, aos índios, a crianças... É preciso educar para o diálogo, é preciso aprender que ninguém é dono de uma verdade absoluta, é fundamental combatermos em todas as esferas a violência. Uma bandeira que busca o respeito é inclusão para todo mundo. 

Romero Belo

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