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Como o chefinho da Casa Rosada 'enquadrou' o poderoso chefão da Casa Branca
A perigo, Milei agradece bilhões de dólares liberados por Trump
Romero Belo

Como o chefinho da Casa Rosada 'enquadrou' o poderoso chefão da Casa Branca

Romero Vieira Belo
Romero Belo
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Eleito presidente em 2023 com discurso de mudança e renovação, Javier Milei, também conhecido como ‘senhor costeletas’, equilibrou as contas da Argentina cortando despesas, eliminando subsídios e adotando uma dolarização disfarçada. Deu certo para o governo, mas a vida da população piorou, mesmo com inflação domada. Certo, o custo de vida caiu, mas as famílias não têm dinheiro. E uma persistente corrida em direção ao dólar desvaloriza o peso elevando o preço dos importados.
Com esse cenário, Milei começou a perder popularidade até que,  em setembro último, seu partido foi derrotado na eleição da Grande Buenos Aires. Tremendo tombo, um mês antes das eleições legislativas no país. Milei acusou a pancada.
– E agora, o que faço para evitar um desastre nas urnas da eleição parlamentar? – disse de si para si. Rapidinho, como num passe de mágica, sobreveio-lhe uma ideia iluminada: “Já sei. Vou pedir socorro ao meu amigo rico. Ele pode, e pode tudo”, rejubilou-se.
O ‘amigo rico’ era Donald Trump, endinheirado, bilionário e, de quebra, presidente dos Estados Unidos. Apesar de envergonhado com o escândalo de corrupção envolvendo sua assanhada irmã Karina Elizabeth, Milei criou coragem para encarar Trump, até porque não lhe restava outra coisa a fazer.
Vinte dias antes da eleição, ajoelhou-se diante da imagem de N. S. de Luján, padroeira da Argentina, suplicou perdão pelos pecados – sobretudo por exigir sacrifício aos eleitores – e implorou força e ousadia para encarar a fera americana. Depois, bateu o telefone.
Na Casa Branca, a assessoria presidencial atendeu e confirmou a origem da ligação, mas disse que a agenda do chefe estava apertada. “Liga daqui a 10 horas”, disse o assessor John Pignattari. Javier agradeceu pois não esperava ser atendido tão rápido… No intervalo, fez contato com a mana Karina e informou que estava prestes a buscar um ‘tudo ou nada’ junto a Trump.
Finalmente, a ligação foi completada e Milei tremeu quando ouviu a interrogação seca, em tom áspero do bilionário.
– O que me traz, portenho, problema ou solução?
A ausência de cumprimento inicial deixou Milei apavorado. Suor frio no rosto, pensou em desistir, ia tomar uma reprimenda daquelas, mas se recompôs ao pensar em Cristina Kirchner, a ex-presidente, inimiga visceral cujos seguidores ameaçavam afogá-lo em um dilúvio de votos.
– Meu senhor, digo, senhor presidente, homem de Deus, o mais poderoso da terra, me ajude, me tire do precipício.
– E o que posso fazer? – indagou Trump agora sem a rispidez costumeira.
– O peso, nossa moeda, está sob ataque especulativo, se desvalorizando e isso vai me causar a derrota na eleição de 26 de outubro. O senhor sabe, somos irmãos de direita, se eu não receber um socorro em dólares, a esquerda ganha, o peronismo volta, será o fim. Um apocalipse.
Donald Trump sabia o que estava acontecendo, tinha informações de agentes da CIA agindo em Buenos Aires, e já estava pronto para intervir, mas preferiu esperar pela súplica do Milei. Então, depois da bajulada, impostou a voz e anunciou:
– Vou comprar pesos, já autorizei a liberação de 20 bilhões de dólares para aquisição da moeda argentina. Com isso, acho que conseguiremos reverter a tendência eleitoral adversa.
– O senhor acha mesmo, meu presidente? – indagou Javier.
Trump soltou uma estridente gargalhada, como que festejando a vitória por antecipação, pois sabia o que estava fazendo.
– Olha, além dessa compra de pesos, vou anunciar mais dólares, porém sob condição. Isso mesmo. Vou avisar que, se você perder, não haverá mais grana. Isso fará o eleitor da oposição pensar duas vezes antes de votar. Em verdade, a abstenção será grande, os contras peronistas pensarão em novos aportes de dólares, mais dinheiro no país, e vão preferir ficar em casa.
Foi uma santa premonição. Tiro certeiro no alvo.
Mais de 34% dos votantes se abstiveram. O La Libertad Avanza, partido de Milei, aplicou uma surra nos peronistas e ressuscitou o governo moribundo de Javier, que agiu rápido para agradecer.
– Obrigado, senhor presidente, santo de minha vida, pela intervenção salvadora. Deus lhe dê muita saúde e mais dólares, muitos dólares, meu presidente, o mais poderoso da terra – derramou-se em breve contato com o entronado da Casa Branca.
Sorridente, o chefão americano curtiu o agradecimento, mas já não reiterou a promessa de nova compra de pesos. Um surto de amnésia congelou a memória do velho e manhoso Trump…
Urnas abertas, vitória esmagadora, ‘surpreendente’. A intervenção monetária deu certo. Javier sussurrou convencido: “Política é isso, grana, muita grana. Quem tem, não perde nunca. Meu amigo me salvou, estou livre do abismo”. Em seguida, gesticulou uma ‘banana’ pensando na detenta domiciliar Cristina Kirchner.
Milei estava certo. Afinal, não se deve esquecer que ele, Trump, venceu a sucessão nos EUA com uma injeção de milhões de dólares na campanha, feita pelo então amigo Elon Musk.
Sim, foi por aí, mas a dinheirama aprovada por Trump às vésperas da eleição na Argentina deixa uma séria questão no ar: não seria, o aporte financeiro emergencial dos EUA, uma receita heterogênea, uma fórmula enviesada de compra ou, digamos, de manipulação de voto?
Com multidões nas ruas e foguetes espoucando em ruidoso clima de comemoração, Karina Milei foi até o irmão presidente, na Casa Rosada, curiosa para saber como tinha sido sua conversa com o magnata e carrancudo Trump.
– Tudo do meu jeito. Fiz e aprontei. Enquadrei o cara e ameacei: solta os dólares ou você terá mais um inimigo implacável. Não sou um Zelensky da vida. Sem essa de coitado. Quero a grana, e já, ou transformo isso aqui numa república comunista. Solta os dólares ou faço dessa joça um paraíso socialista, terrível inimigo dos Estados Unidos.
– E o Donald?
– Ouviu tudo caladinho e mandou abrir o cofre…

 

A perigo, Milei agradece os bilhões de dólares liberados por Trump

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