Comentando Raquel de Queiroz
De repente, chega-me às mãos, o majestoso livro O Quinze - de Raquel de Queiroz, ofertado pela minha querida filha advogada Vanissa Paloma que, por sinal, me incentiva na caminhada literária, que iniciei antes
dela nascer. Aliás, na aurora da década de 70 adentrei ao jornalismo influenciado pelo saudoso Mestre Paulo de Castro Silveira.
No dizer do crítico Antônio Torres: “ Rachel foi um assombro. Este seu romance de estreia publicado em Fortaleza em 1930. Fez estragos nos espíritos da época. O Quinze, livro de mulher, e mulher nova, num tempo em que as mulheres deviam se limitar aos sonetos.” Mestre Graça ao ler O Quinze exclamou: “ Não há ninguém com esse nome. É pilheria. Uma garota assim, fazer romance. Deve ser pseudônimo de sujeito barbudo ”.
Nascida Rachel Franklin de Queiroz no dia 17 de novembro de 1910, filha do Juiz de Direito Daniel de Queiroz e a prendada Clotilde Franklin de Queiroz, deu-lhe educação refinada, despertando-lhe a literatura a ponto de, nos seus verdes dezenove anos, escrever um livro eminentemente nordestino. E o fez retratando a seca de 1915, tornando-se um verdadeiro best seller.
Vale, portanto, reproduzir sua narrativa: “ Minha tia resolveu que, não chovendo até o dia de São José, você (o vaqueiro da fazenda), abra as porteiras e solte o gado. Afirmou a Chico Bento, é melhor sofrer logo o prejuízo de que andar gastando dinheiro à toa em rama e caroço ”. O flagelo da seca assombrava os viventes, provocando medo de um amanhã incerto.
Por ser uma mulher, o machismo não lhe dera crédito. Morou em Maceió. Casou-se com um intelectual, teve uma filha que veio a falecer muito nova. Conviveu com Graciliano Ramos (Vidas Secas), o paraibano José Lins do Rego (que residia na capital alagoana e escreveu Menino de Engenho). A década de 30 brotou a intelectualidade que escreveu a Literatura Nacional sem erros e rasuras.
Outrossim, lendo O Quinze da famosa escritora cearense que, merecidamente, em 1977, foi a primeira mulher, a ocupar a cadeira de nº 5, na Egrégia Academia Brasileira de Letras, disputando com o jurista alagoano Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, derrotando-o com vinte três votos a todos 15.
Uma mulher à frente de sua época, fez história narrando a seca do lugar que nasceu. Foi autêntica na sua escrita impressionando seus colegas acadêmicos a ponto de desconfiarem de seu nome como escritora. Afinal, soube dominar o idioma que se herdou de Camões e Bilac.
É notório que, não abria mão de dormir de rede, coisa de sertaneja
autêntica. Assim, no dia 04 de novembro de 2003, no seu apartamento no
Leblon (Rio de Janeiro), beirando seus profícuos 93 anos veio a falecer. Deixou
marcas indeléveis que a poeira do tempo não conseguirá apagar.
Por Laurentino Veiga